quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Preparar o Natal pelo amor em ação


"Façamos o vazio em nossa alma 
para permitir a Jesus lançar-se nela, 
para vir comunicar-lhe esta vida eterna que é a Sua; 
E depois, no silêncio da oração, escutemo-lo. 
Peçamos-Lhe para que nos torne verdadeiros no nosso amor, 
quer dizer que nos faça seres de sacrifício, 
pois que me parece que o sacrifício 
não é senão o amor posto em acção: 
“Ele amou-me e entregou-Se por mim”."

"Estimo muito este pensamento 
de que a vida do sacerdote e da carmelita 
é um Advento que prepara a Incarnação nas almas, 
E não será também a nossa missão preparar as vias do Senhor 
pela nossa união com Aquele 
que o Apóstolo chama um “fogo consumidor?” 
Pelo contacto com Ele a nossa alma 
há-de se tornar como uma chama de amor 
espalhando-se por todos os membros do corpo de Cristo 
que é a Igreja."


                                                                            Beata Elisabete da Trindade, Carta 250 

Permaneçamos em fecunda oração, até mais e já com saudades!


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Amados irmãos, prontos para entrar no Castelo Interior?


Castelo Interior. Talvez seja este o símbolo que melhor representa Santa Teresa e pelo qual ficou ligada para sempre à cultura. Ela utiliza este símbolo para representar a alma (a pessoa e a sua interioridade) “ofereceu-se-me considerar a nossa alma como um castelo…”

A este castelo, da Santa, não lhe falta nada e assim nos mostra que tem uma cerca que é o corpo, uma porta que é a oração; os habitantes principais são Deus e o homem. Mas há mais gente: vassalos e guardiões, que a Santa compara aos sentidos e às potências da alma (memória, inteligência e vontade). E, como todo o Castelo, conta com os seus inimigos que se refletem nos vermes e animais, nas coisas peçonhentas e nos demônios.

Finalmente este castelo conta com os aposentos da alma que são como as diversas moradas do Céu, onde habita Deus, “um paraíso onde Ele tem as suas delícias”. As moradas deste castelo encontram-se “umas no alto, outras em baixo, outras aos lados; e, no centro e meio de todas estas, tem a principal, que é o compartimento do palácio onde está o rei”.

Diante do panorama deste castelo apresentam-se-nos três alternativas: Destruí-lo, que equivale à perdição total da pessoa. Admirá-lo e viver fora dele, o que corresponde a viver na mediocridade e no pecado. Ou nos decidirmos a conquistá-lo, para viver unidos a Deus.
Para aprofundar este símbolo, mergulharemos na leitura do livro Castelo Interior, de Santa Teresa de Jesus.

Fonte: http://teresadejesus.carmelitas.pt/noticias/noticias_view.php?cod_noticia=108



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Mergulhemos...





1. Onde é que te escondeste,
Amado, e me deixaste com gemido?
Como o cervo fugiste,
Havendo-me ferido;
Saí, por ti clamando, e eras já ido.

2. Pastores que subirdes
Além, pelas malhadas, ao Outeiro,
Se, porventura, virdes
Aquele a quem mais quero,
Dizei-lhe que adoeço, peno e morro.

3. Buscando meus amores,
Irei por estes montes i ribeiras;
Não colherei as flores,
Nem temerei as feras,
E passarei os fortes e fronteiras.
Pergunta às criaturas

4. Ó bosques e espessuras,
Plantados pela mão de meu amado!
Ó prado de verduras,
De flores esmaltado,
Dizei-me se por vós ele há passado!
Resposta das criaturas

5. Mil graças derramando,
Passou por estes soutos com presteza,
E, enquanto os ia olhando,
Só com sua figura
A todos revestiu de formosura.
Esposa

6. Quem poderá curar-me?
Acaba de entregar-te já deveras;
Não queiras enviar-me
Mais mensageiro algum,
Pois não sabem dizer-me o que desejo.

7. E todos quanto vagam,
De ti me vão mil graças relatando,
E todos mais me chagam;
E deixa-me morrendo
Um “não sei quê”, que ficam balbuciando.

8. Mas como perseveras,
Ó vida, não vivendo onde já vives?
Se fazem com que morras
As flechas que recebes
Daquilo que do Amado em ti concebes?

9. Por que, pois, hás chagado
Este meu coração, o não saraste?
E, já que mo hás roubado,
Por que assim o deixaste
E não tomas o roubo que roubaste?

10. Extingue os meus anseios,
Porque ninguém os pode desfazer;
E vejam-te meus olhos,
Pois deles és a luz,
E para ti somente os quero ter.

11. Mostra tua presença!
Mate-me a tua vista e formosura;
Olha que esta doença
De amor jamais se cura,
A não ser com a presença e com a figura.

12. Ó cristalina fonte,
Se nesses teus semblantes prateados
Formasses de repente
Os olhos desejados
Que tenho nas entranhas debuxados!

13. Aparta-os, meu Amado,
Que eu alço o vôo.
Esposo
Oh! Volve-te, columba,
Que o cervo vulnerado
No alto do outeiro assoma,
Ao sopro de teu vôo, e fresco toma.
Esposa

14. No Amado acho as montanhas,
Os vales solitários, numerosos,
As ilhas mais estranhas,
Os rios rumorosos,
E o sussurro dos ares amorosos;

15. A noite sossegada,
Quase aos levantes do raiar da aurora;
A música calada,
A solidão sonora,
A ceia que recreia e que enamora.

16. Caçai-nos as raposas,
Que está já toda em flor a nossa vinha;
Enquanto destas rosas
Faremos uma pinha;
E ninguém apareça na colina!

17. Detém-te, Aquilão morto!
Vem, Austro, que despertas os amores:
Aspira por meu horto,
E corram seus olores,
E o Amado pascerá por entre as flores.

18. Ó ninfas da Judéia,
Enquanto pelas flores e rosais
Vai recendendo o âmbar,
Ficai nos arrabaldes
E não ouseis tocar nossos umbrais.

19. Esconde-te, Querido!
Voltando tua face, olha as montanhas;
E não queiras dizê-lo,
Mas olha as companheiras
Da que vai pela ilhas mais estranhas.
Esposo

20. A vós, aves ligeiras,
Leões, cervos e gamos saltadores
Montes, vales, ribeiras,
Águas, ventos, ardores,
E, das noites, os medos veladores:

21. Pelas amenas liras
E cantos de sereias, vos conjuro
Que cessem vossas iras,
E não toqueis no muro,
Para a Esposa dormir sono seguro.

22. Entrou, enfim, a Esposa
No horto ameno por ela desejado;
E a seu sabor repousa,
O colo reclinado
Sobre os braços dulcíssimos do Amado.

23. Sob o pé da macieira,
Ali, comigo foste desposada;
Ali te dei a mão,
E foste renovada
Onde a primeira mãe foi violada.
Esposa

24. Nosso leito é florido,
De covas de leões entrelaçado,
Em púrpura estendido,
De paz edificado,
De mil escudos de ouro coroado.

25. Após tuas pisadas
Vão discorrendo as jovens no caminho,
Ao toque de centelha,
Ao temperado vinho,
Dando emissões de bálsamo divino.

26. Na interior adega
Do Amado meu, bebi; quando saía,
Por toda aquela várzea
Já nada mais sabia,
E o rebanho perdi que antes seguia.

27. Ali me abriu seu peito
E ciência me ensinou mui deleitosa;
E a ele, em dom perfeito,
Me dei, sem deixar coisa,
E então lhe prometi ser sua esposa.

28. Minha alma se há votado,
Com meu cabedal todo, a seu serviço;
Já não guardo mais gado,
Nem mais tenho outro ofício,
Que só amar é já meu exercício.

29. Se agora, em meio à praça,
Já for mais eu vista, nem achada,
Direis que me hei perdido,
E, andando enamorada,
Perdidiça, me fiz e fui ganhada.

30. De flores e esmeraldas,
Pelas frescas manhãs bem escolhidas,
Faremos as grinaldas
Em teu amor floridas,
E num cabelo meu entretecidas.

31. Só naquele cabelo

Que em meu colo a voar consideraste,
- Ao vê-lo no meu colo, -
Nele preso ficaste,
E num só de meus olhos te chagaste.

32. Quando tu me fitavas,
Teus olhos sua graça me infundiam;
E assim me sobre amavas,
E nisso mereciam
Meus olhos adorar o que em ti viam.

33. Não queiras desprezar-me,
Porque, se cor trigueira em mim achaste,
Já podes ver-me agora,
Pois, desde que me olhaste,
A graça e a formosura em mim deixaste.

34. Eis que a branca pombinha
Para a arca, com seu ramo, regressou;
E, feliz, a rolinha
O par tão desejado
Já nas ribeiras verdes encontrou.

35. Em solidão vivia,
Em solidão seu ninho há já construído;
E em solidão a guia,
A sós, o seu Querido,
Também na solidão, de amor ferido.

36. Gozemo-nos, Amado!
Vamo-nos ver em tua formosura,
No monte e na colina,
Onde brota a água pura;
Entremos mais adentro na espessura.

37. E, logo, as mais subidas
Cavernas que há na pedra, buscaremos;
Estão bem escondidas;
E juntos entraremos,
E das romãs o mosto sorveremos.

38. Ali me mostrarias
Aquilo que minha alma pretendia,
E logo me darias,
Ali, tu, vida minha,
Aquilo que me deste no outro dia.

39. E o aspirar da brisa,
Do doce rouxinol a voz amena,
O Souto e seu encanto,
Pela noite serena,
Com chama que consuma sem dar pena.

40. Ali ninguém olhava;
Aminadab tampouco aparecia;
O cerco sossegava;
Mesmo a cavalaria,
Só à vista das águas, já descia.

Cântico Espiritual 
Canções entre a Alma e o Esposo (Granada 1584-1586)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Partilha de um Retiro de Silêncio...



É difícil iniciar um texto quando em meu coração transborda um sentimento de gratidão pelos momentos do Retiro do Grupo São João da Cruz, ocorrido de 21 a 23 de setembro de 2012, em Tianguá-Ceará.  Foram dias preenchidos, em que caminhamos juntos, na mesma fé, uns com motivações diferentes, mas partilhamos emoções vividas, as palavras dirigidas, e, sobretudo, a certeza de sermos amigos fortes do Bom Deus.


Nosso retiro teve como tema A oração, com colocações feitas por Edith Stein, em que Frei Wilson Gomes do Nascimento, ocd, pregador do retiro, deu-nos importantes orientações sobre a relevância do trato de amizade com o Bom Deus para nossa vida interior, que de certo modo, deve sinalizar a presença do Bom Deus onde estivermos com a vocação a qual fomos chamados. O Bom Deus não cansa de procurar-nos, que apaixonado por cada um de nós, está a esperar o nosso encontro; afinal, correspondemos a esse amor? Estamos nós a trabalhar a terra? Nunca deixemos de trabalhar a terra que o Bom Deus nos confia... Foram inúmeras as reflexões que marcaram o retiro de silêncio.

Dia 21 de setembro, início do Retiro. Dirigimo-nos para as dependências do Seminário Diocesano São José, éramos 12; depois de nos acomodarmos fomos às 18hs para a Capela Grande do Seminário São José a fim de celebrarmos a Santa Missa de abertura do Retiro, votiva a nosso padroeiro São João da Cruz. 


Logo após o jantar, Frei Wilson deu as primeiras colocações sobre o retiro; com uma breve dinâmica, cada um partilhou sua percepção sobre a oração... Após a Oração das Completas, recolhemo-nos em nossos aposentos, já exercitando o silêncio, para logo cedo, iniciar mais um dia.



 



 
Dia 22 de setembro: às 05h45min tocou meu despertador. O dia estava claro, o silêncio pairava nos corredores...  Pulei da cama, e com passos calmos me dirigi ao sino localizado próximo ao jardim para anunciar o Despertar, afinal, tratava-se de um encontro com um Amigo muito especial. 


Fomos para a Capela para celebramos a Santa Missa com Laudes. Estavam conosco, durante este momento, os seminaristas da Diocese de Tianguá. 


 

  

Logo após fomos para o refeitório, onde aquecemos o corpo com um bom café. A seguir, seguiram-se os momentos de reflexão propostos por Frei Wilson no salão de palestras, momentos que foram ricos pela partilha, deserto e de encontro com Aquele que nos ama. Palavras íntimas, refletidas, que oriundas da experiência foram partilhadas em duplas e em grupo... As partilhas foram marcantes, vale insistir nesse ponto. Após as orientações dadas por Frei Wilson, o encontro com o Bom Deus seguia a sós; há algo no local do retiro que propiciava um retorno para si mesmo, retorno que, penso eu, ajudava-nos a voltar para dentro, a desligar-se do mundo turbulento em que estamos para ir até Ele.


 


 


Recolhíamos nos espaços: na capela, no jardim ou no quarto, a meditar a experiência do diálogo com Deus. As colocações realizadas por Frei Wilson desafiavam-nos a uma reflexão no presente, a compreender a imensidão e a exigência do Amor, amor este que é doação e serviço. 

Às 17hs dirigimo-nos para o salão de palestras, onde elevamos o terço como sinal de encontro com nossa Mãe Santíssima, onde depositamos em seu coração orações e pedidos por nossas comunidades, pela Igreja, pelas famílias, pelas vocações, e também, pelos que estavam a estar conosco unidos pela oração... Sentimos falta de nossos irmãos, que infelizmente não puderam estar conosco durante este retiro, mas os colocamos em nossas simples orações.




Após a Oração das Vésperas, fomos jantar, e logo depois, dirigimo-nos para a Capela Grande do Seminário São José, onde estava preparado o que viria a ser a continuação de nossa noite: A Adoração ao Santíssimo Sacramento. 


 

O barulho que estava fora das dependências do retiro estava a desafiar-nos a silenciar; mas não sei como explicar: conseguimos manter os olhos fitos n’Ele, mesmo com tamanho barulho, afinal, Deus nos chama a sermos um com Ele. Cada um permaneceu em sintonia com Ele durante uma hora... Passou rápido, mas aquele momento eternizou-se. Penso que conseguimos desligar os sentidos... Adoramos, rezamos, e assim como cantamos, afirmamos “Tu és meu Senhor, só Tu és o Altíssimo”. Após este encontro, recolhemo-nos para os nossos quartos, para ficarmos ainda mais a só com Ele.

Dia 23 de setembro: às 6h30min assumimos a Celebração Eucarística na Capela do Seminário São José, juntos com a comunidade cristã. Frei Wilson celebrou-A com Pe. Éder, reitor do Seminário São José... 

 

Tiramos a foto em família... Após a Celebração, tomamos o café, e partimos para as últimas colocações do retiro, e ao avaliarmos este retiro de silêncio, percebemos que ele não foi apenas de silêncio: foi feito de partilha, sorrisos, gestos, e por que não abraços! Sem contar a rica troca de experiências dos 12 que ali estavam... Percebi semblantes renovados, alguns refrescados por lágrimas que insistiam em aparecer, mas que falavam de nós, da vida e do Bom Deus.




Aquecidos pelas Palavras do Bom Deus, almoçamos ao meio-dia. Findava o retiro, ecoava o último silêncio. Às 13hs veio a despedida; agradecemos ao Frei Wilson Gomes do Nascimento, ocd, por ter pregado o retiro e por acompanhar com carinho este “pombalzinho da Virgem Maria” presente na Serra da Ibiapaba; à Efigênia, Mônica e Gerardo, da Comunidade Rainha do Carmelo, que participaram do retiro conosco; aos que cuidaram de nossa acomodação na casa de retiro (não lembro aqui o nome de todos, mas rezamos por vocês); e é claro, devemos ser sempre gratos ao Bom Deus, que deu-nos mais uma oportunidade de estarmos em comunhão com Ele. Pegamos a estrada, o caminho de regresso... Foi difícil regressar, mas tínhamos que o fazer. Caminhemos mais fortes e confiantes! Até mais e já com saudades!

Um abraço amigo! Em orações,


André da Santíssima Trindade, ocds